segunda-feira, 9 de novembro de 2015

No meu lugar

Tenho uma amiga que tem cães. Por oposição a filhos, entenda-se. Mostra fotografias no telemóvel como quem abre a carteira em três partes. Fala de cada um indicando os nomes que não consigo memorizar e quase juraria que sabe melhor das suas marcas do que eu as datas das primeiras palavras dos meus filhos.
Ela não sabe apesar de já lhe ter dito: é mãe, não sendo. Há pessoas assim. Naturalmente, cuidam. Naturalmente, preocupam-se.
Lembro-me dela muitas vezes. E lembrei-me dela hoje. Cuidar não é fácil. Cuidar depende de um gesto nosso. De uma preocupação constante. De um amor que não flutua com o tempo. Mas, infelizmente, cuidar não significa que cuidamos efetivamente. Assim é com cães, com filhos, com pais, com amigos. Nem sempre o que damos chega. Nem sempre ajudamos. E muito menos resolvemos. Podemos secar as lágrimas, limpar a ferida e colocar um penso. Podemos fazer uma festa e até dar um beijo. Não significa que a ferida pare de doer, que estanque o sangue ou que cicatrize sem deixar marca. 
Nem sempre os nossos braços esticam o suficiente. E aprender isso é difícil. É um outro caminho. 

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