quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A galinha da vizinha nem sempre é melhor do que a minha- deviam fazer tshirts

É como aquela história do marido das outras. No meu caso, a situação não chega a esse extremo mas, à semelhança da maioria das pessoas, há coisas que queria só porque não as tenho. Ou queria simplesmente porque são o oposto do que eu sou. Por exemplo, desde pequena que gostava de ter o cabelo encaracolado. O meu, claro está, é liso como esparguete bem cozido. E queria, não pequenos jeitos ou ondas, mas verdadeiros canudos, quais cachos graciosos. Lisinho... Gostava de ser frontal, vomitando a resposta mental que não consigo dizer. Assim, na cara, no segundo exato da merecida resposta e não meia hora depois quando a pessoa já entrou na auto-estrada. Gostava de ser a terrorista que apregoo. De não me melindrar com cada frase menos fofinha ou com um qualquer revirar de olhos sem sentido. Não: sensível com leves traços de drama queen... Gostava de não fazer fluxogramas mentais para cada decisão. Sim ou não, a resposta é dada e bola para a frente. Impossível. Analisar prós, listar contras, pensar nas consequências, no que os outros dirão, no que nos outros pensarão, no que os outros vão comer ao jantar. 
Pensava nisto. Às vezes gostávamos de ter ou ser outras coisas simplesmente porque não as conhecemos. Idealizamos, achamos que seria muito melhor e, na verdade, nem sempre assim é.  Eu, para além das qualidades menos "apetecíveis" que mencionei acima, sou uma pessoa queixosa. [Serei daquelas velhotas que, apesar amorosa (tenho a certeza que serei!), listarei as maleitas que assolam o meu frágil corpo a quem me ouvir mais do que cinco minutos.] E uma das queixas que verbalizo com mais frequência é o cansaço. Porque são muitas rotinas, porque é mochilas e roupas e refeições. Porque os miúdos se embrulham em brigas e discussões. Porque tenho de encarnar a Isaura e o General e tudo é programado ao pormenor, segundo a segundo. Porque tenho de pensar em tudo. Queixo-me e invejo os meus amigos que dão ordens às Marias Joaquinas que lhes limpam as casas. Invejo os meus amigos que enviam os filhos durante semanas para os avós ou para férias longínquas. E sinto-me mal por este sentimento que, no fundo, é o desejo íntimo de ter um tempinho para mim. Só para mim. E analiso esta contradição e sinto-me ainda mais cansada... Isto para dizer que, muitas vezes, sobrevalorizamos aquilo que achamos que queremos ou aquilo que achamos que seria bom para nós. 
Não vejo os meus filhos há dias. Não estão cá, não dormem cá. Estou sentada no sofá e só ouço o barulho do aquário. Não estou com um copo de vinho na mão, não fui para nenhuma esplanada e nem calcei os ténis. Não fiz nada do que achava poder fazer sem a tarefa de cuidar deles. Não fiz nada do que imaginei. Eu e o barulho do aquário Vasco da Gama. Sem ter de fazer absolutamente nada! E, no entanto... sem uma ponta de maior alegria. Curioso não é?
De vez enquando volto a ler coisas que já me escreveram. Hoje reli umas palavras que transcrevo sem qualquer contexto. "O dia em que compreenderes que deves aproveitar as pequenas felicidades... é o dia em que te libertas (...)."
Tenho saudades deles. 

4 comentários:

  1. Boa reflexão! Limpaste a mente com este texto :)

    ResponderEliminar
  2. Há para aí umas coisitas com as quais também me identifico... mas no fundo ambas sabemos que a galinha da vizinha não é assim tão gorda, e se for... não põe ovos, ou é estrábica, ou...

    ResponderEliminar
  3. OMG!! Tanto com o qual me identifiquei. Obrigada por me fazer sentir mais "normal" :)

    ResponderEliminar
  4. Tal e qual por aqui... o meu filho está na terra de férias pela primeira vez a pedido dele e estou morta que chegue domingo para o ter cá... pareço uma parva em casa de manhã e a noite custa muito...

    ResponderEliminar